segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Capoeira Luandaê Entrevista: Mestre Toni Vargas!

 

Antônio César de Vargas, o Mestre Toni Vargas, nasceu no Rio de Janeiro em 5 de abril de 1958 e a fusão de sua própria vida com a capoeira começou em 1968 com o Mestre Rony do Grupo Palmares de Capoeira. Depois foi aluno de Mestre Touro, do Grupo Corda Bamba e em 1977, ingressou no Grupo Senzala de Mestre Peixinho se formando em 1985. Graduado em Educação Física e pós graduado em dança, Mestre Toni Vargas foi um dos pioneiros no trabalho de capoeira infantil no Rio de Janeiro. Uma importante referência na música da capoeira, já possui notável discografia considerando as dificuldades encontradas em qualquer segmento musical no Brasil. Álbuns como Liberdade, Saudade, Os fundamentos da Malícia (com Mestre Nestor) e Quadras e Corridos são verdadeiros retratos da alma de um homem que costuma dizer que a capoeira se confunde com sua própria vida. Durante a última Clínica de Capoeira realizada na USP por Mestre Gladson, Mestre Toni Vargas, gentilmente concedeu uma breve entrevista a Capoeira Luandaê. (Por Marcos Oliveira).


CL: Como foi seu primeiro contato com a capoeira?
M. Toni Vagas: Eu conheci a capoeira através de um primo que tinha acabado de iniciar na capoeira. Ele me levou pra assistir uma aula e eu simplesmente me encantei completamente já em meu primeiro contato com ela.
 
CL: Quem são seus maiores ídolos na capoeira?
Mestre Toni Vargas com Mestre Peixinho
M. Toni Vagas: Pois é, existem muitas pessoas que a gente se inspira na capoeira e é claro que Mestre Pastinha e Mestre Bimba são ídolos e referências para todos os capoeiristas. Mas Mestre Peixinho é meu grande ídolo. Ele foi uma pessoa que me deu grandes exemplos de caráter, bondade, generosidade e conhecimento dos fundamentos da capoeira. Mestre Peixinho, sem dúvida nenhuma é e vai ser pra sempre meu grande ídolo.


"...Ele (Mestre Peixinho) foi uma pessoa que me deu grandes exemplos de caráter, bondade, generosidade e conhecimento dos fundamentos da capoeira."

 
CL: Considerando toda sua experiência na capoeira e as mudanças que ela vem sofrendo, como o senhor vê a capoeira de hoje?
Grande encontro de capoeiristas

M. Toni Vagas: Eu acho que a capoeira está novamente em uma fase de mudança e é muito difícil definir algo que está em mutação, mas de qualquer forma eu vejo a fase atual com muito otimismo. Os grandes encontros estão voltando a acontecer no Brasil, e, sem dúvida nenhuma, as pessoas estão deixando de lado a questão de brigas e disputas para dar lugar a alegria e a emoção de simplesmente jogar capoeira fazendo dela um instrumento de paz e conhecimento. Eu estou muito otimista com o atual momento da capoeira. Por outro lado, a capoeira está entrando em uma nova fase em que os capoeiristas serão mais cobrados. Mas não no sentido de performance e sim em termos de conhecimento, atitude e postura.



CL: Aproveitando o que o senhor acabou de falar, na sua opinião, como seria um capoeirista completo?
M. Toni Vagas: Eu acho que o capoeirista completo não existe. O conceito criado nos anos 90 de um capoeirista completo (o cara que joga, que toca e canta) é, na minha opinião, totalmente equivocado. O próprio ser humano é falível e na prática da capoeira isso não é diferente. Agora, existem capoeiristas que podem complementar determinadas situações porque tem habilidades específicas para aquele momento. Todo capoeirista que se acha completo não está bem. O capoeirista de verdade deve estar sempre em busca de conhecimento, dos fundamentos da capoeira.


"... O capoeirista de verdade deve estar sempre em busca de conhecimento, dos fundamentos da capoeira."
 

CL: Devido à proximidade do jogos do Rio de Janeiro em 2016, a capoeira como esporte olímpico é um assunto que voltou a ser discutido. Qual é sua opinião sobre isso?
M. Toni Vagas: Eu quero deixar bem claro que tenho profundo respeito pelas pessoas que pensam de outra forma, mas não sou a favor da capoeira como esporte olímpico. Primeiro porque não acredito no modelo das olimpíadas. Esse é um movimento que não me sensibiliza porque coloca a performance muito além do ser humano. Eu sou educador e acredito que o ser humano está acima de sua performance, priorizo sim, o processo de desenvolvimento pleno dos indivíduos. Então, eu não acredito nas olimpíadas como um movimento humanitário e não gostaria de ver a capoeira envolvida. A capoeira tem caminhos muito mais ricos através da cultura e da arte. 
 
CL: Capoeira Angola e Capoeira Regional. Qual é seu ponto de vista?
M. Toni Vagas: Bom, eu costumo brincar que essa é uma divisão soteropolitana, uma divisão que costuma acontecer em Salvador onde surgiram os dois grandes ícones da capoeira: Mestre Bimba e Mestre Pastinha. Eu sou do Rio de Janeiro onde isso originalmente não aconteceu, então eu prefiro não entrar nesse mérito de Capoeira Angola e Capoeira Regional. Eu respeito as pessoas que fazem uma leitura da capoeira a partir da Capoeira Angola ou a partir da Regional, mas não me considero dentro desta divisão.


CL:- Afinal, todos nós bebemos da mesma água, não é Mestre?
M. Toni Vagas: Sem dúvida nenhuma. Eu acredito na capoeira como uma família cósmica e que precisamos pensá-la como um todo. Eu acredito e trabalho nessa direção.


CL: Hoje o Mestre Toni Vargas é uma das maiores referências na música
da capoeira. Como se dá o seu processo de criação de uma cantiga?



M. Toni Vagas: Olha, em geral esse é um processo absolutamente instintivo. Alguma coisa ou ideia que me vem à cabeça me trazendo o desejo de externá-la sem a necessidade uma preparação específica. Muitas vezes crio fora da roda e outras vezes vai saindo ao vivo direto no axé do ritual. Na verdade é uma benção que não me canso de agradecer. CL

 

 

 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Capoeira Luandaê Entrevista: Mestre Itapoan - 50 anos dedicados à Capoeira!


Raimundo Cesar Alves de Almeida, o Mestre Itapoan, iniciou sua trajetória na capoeira em 1964 na academia de Mestre Bimba. Contemporâneo de outros grandes representantes da capoeira regional como Mestre Camisa Roxa, Acordeon e Airton Onça, Mestre Itapoan também é cirurgião dentista e professor adjunto da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
Em 1972, fundou a Ginga Associação de Capoeira e ao longo destes 50 anos de dedicação a capoeira, Mestre Itapoan publicou livros como “Bimba, o perfil do Mestre”, “A Bibliografia da Capoeira Regional, a “Saga do Mestre Bimba”.
Durante a última Clinica de Capoeira realizada na USP por Mestre Gladson, Mestre Itapoan, gentilmente concedeu uma breve entrevista a Capoeira Luandaê. (Por Marcos Oliveira)
 





CL: Como foi seu primeiro contato com a Capoeira?
Mestre Itapoan e Rico 1965 em Itapoã
Mestre Itapoan: Bom, meu pai trabalhava na Petrobras e por isso sempre nos mudávamos quando ele era transferido. Após sua morte, em 1963, nós voltamos pra Salvador e fomos morar em Itapoã. Naquela época, eu tinha um amigo que treinava judô e ele me convidou pra treinar com ele. Então, eu conversei com minha mãe e ela me deu o dinheiro para as aulas de Judô. Mas ao mesmo tempo, um primo meu apelidado Detetive, me chamou pra ver uma aula de Capoeira. Eu nunca tinha visto Capoeira e nem mesmo sabia o que era um berimbau. Eu não tinha a mínima ideia do que era. Mas eu resolvi ir ver a tal aula de Capoeira com ele. Ele me levou na academia de Mestre Bimba. Eu assisti a aula, gostei, peguei o dinheiro do judô e me matriculei.


CL: Quem são seus maiores ídolos na Capoeira?



Mestre Itapoan e Camisa Roxa
Mestre Itapoan: São muitos. Quando eu cheguei na academia de Mestre Bimba, lá já estavam o Acordeom, que já era formado, o Camisa Roxa, o Airton Onça e outros caras. Então, além de Mestre Bimba, eu me espelhei bastante neles. Também na Capoeira angola uma referência que eu tive foi Paulo dos Anjos. Ele morava em Itapoã também e por isso estava sempre na minha casa. Eu tinha outros amigos angoleiros também, mas Paulo dos Anjos foi o mais chegado.



CL: Como o Sr. vê a Capoeira de hoje?
Mestre Itapoan: A Capoeira cresceu tanto no mundo inteiro que é praticamente impossível estabelecer um parâmetro do que é a Capoeira em cada lugar. Há lugares onde pessoas ensinam a Capoeira de um jeito e outros onde ela é ensinada de forma totalmente diferente. É exatamente essa diversidade que faz a Capoeira ser tão fascinante.

CL: Como seria um capoeirista completo?
Mestre Itapoan: Como a Capoeira é uma atividade individual, eu nunca comparo capoeiristas. Uma coisa legal que eu sempre digo e inclusive botei em uma música minha é o seguinte: ‘Hoje o bom foi você, amanhã eu já não sei. O tempo é que vai dizer.’ Então, um capoeirista pode se destacar hoje mas amanhã é outro dia e um outro muito melhor pode aparecer.
Mestre João Grande e Mestre Itapoan em NY.
Agora para ser um bom capoeirista, o cara tem que entender a Capoeira, treinar é importante, mas tem que principalmente pesquisar a Capoeira, buscar informações com Mestres mais antigos e então passar adiante os fundamentos corretos evitando que deturpem a arte da Capoeira.



CL: Quais são suas expectativas para a Capoeira no futuro?
Eu acho que o processo de crescimento da Capoeira é irreversível. Antigamente, agente contava nos dedos os países onde se praticava Capoeira. 

"...as únicas instituições que o capoeirista acredita são os grupos criados e dirigidos por eles mesmos. "
  
Hoje é mais fácil contar onde não tem. Com o crescimento e organização dos grupos é possível chegar a um país e encontrar até 10 grupos diferentes com trabalhos muito bons. Então, eu penso que não tem mais volta. Pra você ver que a coisa é tão louca, aqui mesmo no Brasil, a Capoeira está tão inflamada que acontecem tantos eventos ao mesmo tempo que você não consegue acompanhar. As vezes você é obrigado a declinar convites de grandes amigos e parceiros porque são muitos os convites.
O caminho da Capoeira é esse e ela ainda tem muito a conquistar. Para isso é preciso que os capoeiristas continuem se organizando, se organizando sem instituições, pois as únicas instituições que o capoeirista acredita são os grupos criados e dirigidos por eles mesmos.

CL: Já que o Sr. falou de organização e instituições, o que Sr. pensa da possibilidade da Capoeira ser um dia um esporte olímpico?
Mestre Itapoan e Acordeon Campeonato Baiano de capoeira 1976
Mestre Itapoan: Eu sinceramente espero que a Capoeira nunca seja uma modalidade olímpica. Primeiro que não vai ser Capoeira. Vai ser qualquer coisa parecida com a Capoeira e sem essência nenhuma. Não é possível encaixá-la nas olimpíadas como ela é. A Capoeira é uma coisa muito maior. Um atleta não pode ser avaliado por meia dúzia de golpes. Eu estou lhe dizendo isso porque eu mesmo já disputei competições. Eu disputei os campeonatos de Mestre Bimba, fui campeão universitário, fui campeão Baiano, fui penta campeão baiano pela minha academia. Então, eu vivi tudo isso de perto e posso dizer com certeza que isso não acrescenta coisa nenhuma.

CL: O Sr. mencionou o Mestre Paulo dos Anjos que era um angoleiro e o Sr. vem da Capoeira regional de Mestre Bimba. Capoeira Reginal e Capoeira Angola, qual é seu ponto de vista?
Mestre Itapoan: Olha, se você me perguntar qual é a melhor, eu vou dizer que é a Regional (risos). Mas isso é uma coisa do tipo, você é Vasco eu sou Flamengo, qual é o melhor time, o seu é o seu e o meu é o meu! Então com Mestre e Bimba e Mestre Pastinha era assim. Pastinha dizia que a melhor era Capoeira Angola e Bimba dizia que era a Regional. Mas eu acho que se você praticar qualquer uma das duas com seriedade, você vai ter bom desempenho. Acho inclusive que uma completa a outra.
Lá na Bahia, existe muito essa divisão. Em outros estados, misturam as duas e em alguns casos até chamam essa mistura de Capoeira contemporânea, o que eu acho um erro porque contemporâneo significa tempo e não estilo.

De pé, Mestre Jose Gato, Camisa, Caiçara, Joao Pequeno, Canjiquinha. Agachados, Mestre John Grandão, de Teresina e Mestre Itapoan.
CL: Como era a convivência do Mestre Bimba com seus alunos?
Mestre Itapoan: Não era muito diferente. Hoje você tem alunos que você confia e alunos que você não gosta muito, mas tem que aturar porque o cara tá pagando e isso faz parte do processo. Com meu Mestre era a mesma coisa. 

"Uma coisa admirável sobre Mestre Bimba era o carisma e a facilidade com que ele fazia você, entender, amar e defender a Capoeira"

 Com os alunos que ele se dava bem ele brincava, tentava ser legal, mas os que ele não era muito chegado tinham a mesma aula. Mestre Bimba dava a mesma aula pra todos os alunos. Com isso ele não fazia diferença.
Mestre Bimba era uma pessoa primária, dura, ignorante e bruto, mas ao mesmo tempo uma pessoa muito amável e muito protetora. O Mestre sempre queria o bem do aluno dele.
Mestre Bimba e alunos na Formatura de Xaréu, em baixo no centro Cesar Itapoan
Pra você ter uma ideia, o Mestre Bimba naquela época já tinha 64 anos, ou seja, ele tinha a idade que eu tenho hoje e dava aula às 5 da manhã, no período da tarde e da noite. Eu nunca vi Mestre Bimba faltar em uma aula sequer. Ele realmente tratava seus compromissos com a Capoeira com muita seriedade.
Uma coisa admirável sobre Mestre Bimba era o carisma e a facilidade com que ele fazia você, entender, amar e defender a Capoeira. Se ele pedisse para um aluno pular de cabeça no chão, o aluno pulava. Hoje se eu disser pra um aluno pular de cabeça, ele certamente vai dizer: Pule você!
O que eu posso dizer é que a relação e influência que Mestre Bimba exercia em seus alunos era fantástica. CL

quinta-feira, 30 de maio de 2013



 A Virada Cultural Paulista também terá a contribuição da Capoeira Regional. O evento acontecerá no próximo dia 9 de Junho às 9:00 no Parque Celso Daniel (Av. Dom Pedro II, 940, Jardim - Santo André). Além da roda da capoeira e apresentação da orquestra de berimbaus, o público presente será convidado a participar do Maculelê.



Fique ligado! Em breve, publicaremos um série de entrevistas que alguns dos maiores Mestres da atualidade concederam ao capoeiraluandae.blogspot com exclusividade.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Mestre Bigodinho

 
Reinaldo Santana - Mestre Bigodinho, Exímio cantador e tocador de berimbau, nascido em 13 de setembro de 1933 na cidade de Santo Amaro, na Bahia, começou na capoeira em 1950 com Mestre  Waldemar Rodrigues da Paixão, permanecendo até 1970, onde se afastou devido a repressão e discriminação sofrida na época.
Em 1997, incentivado por seu amigo - o Mestre Lua Rasta, retornou ao convívio da capoeira, para a satisfação de todos que admiram essa nobre arte.

Mestre Bigodinho faleceu em  05 de Abril de 2011 no hospital  de Santo Amaro deixando uma enorme contribuição para a cultura Afro-Brasileira através da Capoeira.

  "A capoeira é uma defesa pessoal e cada qual se defende como pode na hora da necessidade. A capoeira não é valentia".
"Faça pouco bem feito do que muito mal feito".
                                                     Mestre Bigodinho.



sexta-feira, 23 de março de 2012

Mestre Ananias



Mestre
Ananias é a síntese da herança africana do povo brasileiro. Vive a capoeira, o Samba e o Candomblé sem dissociá-los, esclarecendo no seu comportamento questões sobre a ancestralidade do nosso povo. Nascido no ano de 1924, em São Félix, região do Recôncavo Baiano cuja fertilidade cultural merece estudo aprofundado. Absorve o contexto no qual está imerso e na metade do século XX vem para São Paulo a convite de produtores do teatro paulistano. Trabalha com Plínio Marcos, Solano Trindade e outras personalidades, em todos os teatros da cidade. Em 1953, ano de sua chegada, Mestre Ananias funda a roda de capoeira mais tradicional de São Paulo, a Roda da Praça da República. Essa ganha força com a chegada de seus conterrâneos e nesse ínterim a capoeira exerce de fato um dos seus principais fundamentos, integrar à sociedade, classes desfavorecidas frente às imposições e preconceitos raciais e sociais.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O legado de Mestre Noronha


Muito sobre as memórias dos tempos dos valentões e dos grandes capoeiristas do início do século XX, chegou até nós graças a um costume que o mestre Noronha (Daniel Coutinho por batismo) tinha, de anotar nomes, datas, locais e “causos” envolvendo os personagens envolvidos com a capoeiragem da Bahia. O “A.B.C. da capoeira Angola” foi um livro organizado pelo nosso grande pesquisador da capoeira – Frede Abreu, a partir dos manuscritos deixados por Noronha, e se tornou um grande legado para todos aqueles que pretendem saber mais sobre esta arte-luta, e de tudo aquilo que estava ao seu entorno. capoeira e seus personagens, a política e seus políticos, festas populares, economia, repressão policial, história do Brasil, são alguns assuntos abordados por este grande mestre da capoeira em seus manuscritos, que posteriormente à sua morte, Frede Abreu transformou em livro, como forma de perpetuar essa memória.

Mestre Noronha Mestre Noronha Noronha teve o privilegio de vivenciar os momentos áureos da capoeira baiana do início do século XX. E nos deixou relatos belíssimos desses tempos. Desde a perseguição dos capoeiras, devido à política vigente na época, até a sua visão de decadência dessa arte, norteada pela imagem das academias formadoras de capoeiras.

As elites queriam transformar a cidade de Salvador, em uma cidade de características européias. Em outras palavras, limpar ou erradicar, se necessário, das ruas, as tradições de origem negra, favorecendo a manutenção da ordem pública. visando atender as exigências da classe mais abastada. Nesse contexto social, de conflitos e de discriminação em relação às manifestações afro-brasileiras, é que vai se formando o menino Daniel Coutinho, no local que fazia parte do mapa central da criminalidade, da vadiação, da desordem e também do trabalho em Salvador.

Noronha sempre defendia que a “…capoeira viera da África, trazida pelos africanos, porém não era educada…”, tendo adquirido esta característica aqui no Brasil. Vivenciou ainda menino, por volta dos 8 anos de idade, a difícil arte da capoeira com um negro descendente de Angola, o velho Candido Pequeno. Tinha uma imensa admiração por este capoeira.

Em seus manuscritos, narra diversos casos envolvendo enfrentamentos com a polícia e com outros valentões, citando locais e nomes dos mais famosos capoeiras da época, envolvidos nesses conflitos, assim como ele próprio, respeitado e temido no universo dos “desordeiros”.

Noronha observava que antes de freqüentar qualquer roda, era preciso ter a consciência de que “…não era coisa de brincadeira, havia muita mardade neste meio…”. Não dispensava patuás, que servia para evitar os maus espíritos. Amuletos eram fundamentais. Sempre tinha uma oração, pedia graças ao divino Espírito Santo e aos Orixás. Sempre e sempre com o corpo fechado, não admitia chegar em roda despreparado. Falava sempre: “…a defesa para a nafé (navalha) a pessoa traz consigo mesmo. Sem ter arma, o capoeira tem sua defesa particular que admira o público…”.

Dizia que um bom aprendiz de capoeira angola, tem que obedecer às palavras do mestre, tem que aprender o jogo de dentro e o jogo pessoal para a sua defesa, sempre dando ênfase a tudo aquilo que “…desse vantagem para escapulir da polícia, pois ela não gostava do capoeira…”. Para ser mestre, dizia Noronha, “…tem que aprender toda a malícia que existe nesta malandragem…”.

Em seus manuscritos, Noronha descreve as famosas “festas de largo” de Salvador e a participação dos capoeiras nesses eventos. É justamente nesse contexto descrito por Noronha que surge e vai se estruturando o modelo de “roda de capoeira” tal qual conhecemos hoje, enquanto um ritual definido pela presença de instrumentos musicais e de certas “regras” que vão se transformando ao longo dos tempos. Antes disso a capoeira se expressava de outras maneiras, como as “maltas” no Rio de Janeiro. Mas o modelo de organização em forma de “roda de capoeira” que permanece até os dias de hoje e se espalhou pelo mundo todo, foi sendo estruturado nesses espaços e nesse período histórico, o qual Noronha nos relata com tanta riqueza de detalhes em seus manuscritos.

Noronha teve participação também no surgimento do primeiro Centro Esportivo de capoeira angola, na Ladeira da Pedra, no bairro da Liberdade, sendo Amorzinho, o próprio Daniel Coutinho, Totonho de Maré e Livino, entre outros, seus “…donos e proprietários…”. Porém, Noronha sempre registrou o grande esforço feito por mestre Pastinha em manter e elevar o nome do centro, a partir de quando assume a direção do mesmo.

O mestre Noronha era um severo crítico dos capoeiras que não se dedicavam a conhecer melhor sua arte, que se diziam “grandes mestres” de capoeira e donos de academia. Dizia: “...eu mestre Noronha tenho todo o fundamento comigo porque me dediquei e aprendi toda a malandragem…”

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Mestre Canjiquinha


“A Capoeira é alegria, é encanto, é segredo”

Washington Bruno da Silva, nasceu em Salvador (BA), filho de D. Amália Maria da Conceição. Aprendeu Capoeira com Antônio Raimundo – o legendário Mestre Aberrê. Iniciou-se na Capoeira em 1935, na Baixa do Tubo, no Matatu Pequeno. “No banheiro do finado Otaviano” (um banheiro público). Filho de lavadeira, Mestre Canjiquinha foi sapateiro, entregador de marmita, mecanógrafo. Dentre outras atividades foi também jogador de futebol (goleiro) do Ypiranga Esporte Clube, além de cantor de boleros nas noites soteropolitanas.

Foi um visionário da capoeira, dizia sempre aos seus alunos” A capoeira não tem credo, não tem cor, não tem bandeira, ela é do povo, vai correr o mundo”. Tinha uma característica toda própria de tocar o berimbau, instrumento que segurava com a mão direita e tocava com a vaqueta na mão esquerda, mantendo o berimbau a altura do peito. Canjiquinha na sua ascensão, mesmo não tendo sido aluno do Mestre Pastinha foi Contra Mestre na academia deste. Ao sair fundou, já como Mestre, a sua própria academia. ASS. De capoeira Canjiquinha e seus amigos, fundada em 22/05/52, por onde passaram grandes capoeiras, alguns dos quais hoje renomados Mestres: Manoel Pé de Bode, Antonio Diabo, Foca, Roberto Grande, Roberto Veneno, Roberto Macaco, Burro Inchado, Cristo Seco, Garrafão, Sibe, Alberto, Paulo Dedinho (conhecido hoje como Mestre Paulo Dos Anjos), Madame Geni (conhecido hoje como Geni Capoeira), Olhando Pra Lua (conhecido hoje como Lua Rasta), Brasília, Sapo, Peixinho Mine-saia, Papagaio, Satubinha, Vitos Careca, Cabeleira, Língua de Teiú, Urso, Bola de Sal, Boemia Tropical, Salta Moita, Melhoral, Lucidío, Bico de Bule, Bando, Dodô, Salomé, Mercedes, Palio, Cigana, Urubu de Botina, entre outros. Canjiquinha na sua academia jamais formou alunos, seguia a seguinte graduação: Aluno, Profissional, Contra Mestre, Mestre.

Participou também dos filmes “O Pagador de Promessas”, “Operação Tumulto”, “Capitães de areia”, “Barra Vento”, “Senhor dos Navegantes” e “A moça Daquela Hora”. Além de fotonovelas com Sílvio César e Leni Lyra. Fundou o Conjunto Folclórico Aberrê.

Fonte portalcapoeira.com

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Mestre Waldemar


Waldemar Rodrigues da Paixão 22-02-1916 / 00-00-1990

Mestre Waldemar, Waldemar Rodrigues da Paixão, mestre de capoeira baiano (Ilha de Maré, Bahia 1916 – Salvador, Bahia 1990) também conhecido como Waldemar da Liberdade ou Waldemar do Pero Vaz, dos nomes do bairro e da rua onde implantou sua capoeira.

A fama de Waldemar como capoeirista e mestre de capoeira aparece nos anos 1940. Ele implanta um barracão na invasão do Corta-Braço, futuro bairro da Liberdade, onde joga-se capoeira todos os domingos, também ensinando na Rampa do Mercado na Cidade Baixa. Fica conhecida a diversidade dos jogos que ele pratica, dos mais lentos aos mais combativos, com afirmada preferencia para os primeiros.

Durante os anos 50, a capoeira dele na Liberdade atrai acadêmicos, artistas e jornalistas. Os etnólogos Anthony Leeds em 1950 e Simone Dreyfus em 1955 gravam o som dos berimbaus. O esculpidor Mário Cravo e o pintor Carybé, também capoeiristas, freqüentam o barracão. Mais tarde, a maior parte dos capoeiristas de nome afirmam ter ido na capoeira de Waldemar, na de Mestre Cobrinha Verde no bairro de Nordeste de Amaralina et na de Mestre Bimba.

De acordo com Albano Marinho de Oliveira (1956), o grupo da Liberdade começou a cantar demorados solos antes do jogo (hoje chamados ladainhas). O próprio Waldemar revindicou, em depoimento a Kay Shaffer, ter inventado de pintar o berimbau. A fabricação e venda para os turistas de berimbau foi uma fonte de renda para mestre Waldemar.

Waldemar, como bom capoeirista, andou na sombra. Ficou discreto sobre suas atividades e breve em sua fala. Mal existem fotos dele antes de velho. Não procurou a fama e, apesar de seu notado talento de cantor e de tocador de berimbau, não integrou muito o mercado de espetáculo turístico. Também, a música que se escuta nas gravações de 1950 e 1955 é coletiva, sempre tendo, ao menos, um dialogo de dois berimbaus. Assim, Jorge Amado menciona Mestre Traíra, também da Liberdade, como assíduo visitante de Waldemar.

Velho e impossibilitado de jogar capoeira e de tocar berimbau pela doença de Parkinson, Waldemar ainda aproveitou um pouco do movimento de resgate das tradições dos anos 1980, cantando em diversas ocasiões e gravando CD com Mestre Canjiquinha.


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Mestre Totonho de Maré








Mestre Totonho de Maré, Antonio Laurindo das Neves, nasceu em 17 de setembro de 1894 na Ilha de Maré, localizada na Baía de Todos os Santos em Salvador. Filho de Manoel Gasparino Neves e de Margarida Neves, faleceu em 18 de outubro de 1974, aos 80 anos. Mestre Maré foi um dos fundadores da famosa Gengibirra ao lado de importantes figuras da Capoeira Angola como Mestres Noronha, Amorzinho, Aberrê, entre outros. Foi muito respeitado nas rodas de capoeira e costumava cantar uma quadra que indicava o lugar privilegiado que ocupava na capoeira angola. Mestre Maré utilizava a expressão “galanteria da capoeira” quando se referia aos antigos mestres da capoeira baiana.


Quem quer saber do meu nome,
como foi dado na pia*
me chamo Maré sem medo,
e sou da galantaria.

*O mestre se referia a pia batismal.

Fonte: Arquivo particular de Jair Moura.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Madame Satã

O Pernambucano João Francisco dos Santos (1900-1976), o mítico Madame Satã, era uma espécie de bandido chique. Dizia ser filho de Iansã e Ogum e devoto da cantora americana Josephine Baker. Homossexual assumido em plenos anos 30, ele reinava como camareiro, cozinheiro, transformista, leão-de-chácara e ladrão no submundo da Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro. Negro, pobre e analfabeto, João dos Santos ganhou o apelido de Madame Satã por causa de uma fantasia que usou no bloco carnavalesco Caçadores de Veados em 1942.

Madame Satã foi especial pela infinita capacidade de transformação. Nunca aceitou um único papel. Homossexual, se vestia com o chapéu de panamá e linho apurado de bom malandro, a despeito das sobrancelhas feitas. Jamais admitiu homem se casar com homem e chegou a ter rumorosos casos com meninas de 12 anos. Lutador, viveu quase 28 anos preso em lendária tranqüilidade. Negro, usava os cabelos longos e alisados e comprava briga para ir aonde bem entendesse.

Para entender quem foi Madame Satã, é preciso compreender quem foi João Francisco dos Santos e o que foi a Lapa dos anos 30, território-livre da malandragem que resistiu ao bota-abaixo do Centro do Rio, promovido pelo prefeito Pereira Passos. O desmanche de morros, a abertura de avenidas e a demolição de cortiços foi uma tentativa de assepsia da capital federal que, no início do século 20, contava com 800 mil habitantes, 200 mil deles desocupados de todas as espécies, de baleiros a biscateiros, desempregados, rufiões, prostitutas e jogadores de capoeira, entre eles o próprio João dos Santos.

Foi nesse tipo de ambiente que surgiu Madame Satã. Vinte anos depois da Abolição, o menino trabalhava como escravo em Itabaiana, na Paraíba, antes de fugir para o Rio. Depois passou para as mãos de Catita, uma cafetina de 180 quilos que comandava um dos bordéis mais animados da cidade e tornou-se freqüentador de célebres bares e cabarés da mitologia carioca: Colosso, Capela, Imperial, Bahia, Apolo, Royal Pigalle, Viena Budapest, Casanova e Cu da Mãe. Era um tempo de uma marginalidade pré-industrial, com raras armas de fogo, quando um negro forte podia criar fama no tapa e na navalha, antes de se lambuzar com um "boneco" de cinco gramas de cocaína comprado na farmácia mais próxima.

Ao todo, João Francisco contabilizou 27 anos e oito meses de cadeia, 29 processos, 3 homicídios e cerca de 3 mil brigas. Ágil lutador de capoeira e mestre no manuseio da navalha – contam que ele sempre trazia uma presa na sola do sapato –, Madame Satã só recorria ao revólver em situações extremas, a exemplo da vez em que desfechou um tiro num soldado, na esquina da rua do Lavradio com a avenida Mem de Sá. Na famosa entrevista concedida ao histórico tablóide O Pasquim, em 1976, com seu deboche habitual o malandro afirmou ter sido preso injustamente, alegando que a arma disparara de forma casual. “A bala fez o buraco, quem matou foi Deus”, afirmou. Dizia que não brigava, se defendia



O Pernambucano João Francisco dos Santos (1900-1976), o mítico Madame Satã, era uma espécie de bandido chique. Dizia ser filho de Iansã e Ogum e devoto da cantora americana Josephine Baker. Homossexual assumido em plenos anos 30, ele reinava como camareiro, cozinheiro, transformista, leão-de-chácara e ladrão no submundo da Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro. Negro, pobre e analfabeto, João dos Santos ganhou o apelido de Madame Satã por causa de uma fantasia que usou no bloco carnavalesco Caçadores de Veados em 1942.
Madame Satã foi especial pela infinita capacidade de transformação. Nunca aceitou um único papel. Homossexual, se vestia com o chapéu de panamá e linho apurado de bom malandro, a despeito das sobrancelhas feitas. Jamais admitiu homem se casar com homem e chegou a ter rumorosos casos com meninas de 12 anos. Lutador, viveu quase 28 anos preso em lendária tranqüilidade. Negro, usava os cabelos longos e alisados e comprava briga para ir aonde bem entendesse.
Para entender quem foi Madame Satã, é preciso compreender quem foi João Francisco dos Santos e o que foi a Lapa dos anos 30, território-livre da malandragem que resistiu ao bota-abaixo do Centro do Rio, promovido pelo prefeito Pereira Passos. O desmanche de morros, a abertura de avenidas e a demolição de cortiços foi uma tentativa de assepsia da capital federal que, no início do século 20, contava com 800 mil habitantes, 200 mil deles desocupados de todas as espécies, de baleiros a biscateiros, desempregados, rufiões, prostitutas e jogadores de capoeira, entre eles o próprio João dos Santos.
Foi nesse tipo de ambiente que surgiu Madame Satã. Vinte anos depois da Abolição, o menino trabalhava como escravo em Itabaiana, na Paraíba, antes de fugir para o Rio. Depois passou para as mãos de Catita, uma cafetina de 180 quilos que comandava um dos bordéis mais animados da cidade e tornou-se freqüentador de célebres bares e cabarés da mitologia carioca: Colosso, Capela, Imperial, Bahia, Apolo, Royal Pigalle, Viena Budapest, Casanova e Cu da Mãe. Era um tempo de uma marginalidade pré-industrial, com raras armas de fogo, quando um negro forte podia criar fama no tapa e na navalha, antes de se lambuzar com um "boneco" de cinco gramas de cocaína comprado na farmácia mais próxima.
Ao todo, João Francisco contabilizou 27 anos e oito meses de cadeia, 29 processos, 3 homicídios e cerca de 3 mil brigas. Ágil lutador de capoeira e mestre no manuseio da navalha – contam que ele sempre trazia uma presa na sola do sapato –, Madame Satã só recorria ao revólver em situações extremas, a exemplo da vez em que desfechou um tiro num soldado, na esquina da rua do Lavradio com a avenida Mem de Sá. Na famosa entrevista concedida ao histórico tablóide O Pasquim, em 1976, com seu deboche habitual o malandro afirmou ter sido preso injustamente, alegando que a arma disparara de forma casual. “A bala fez o buraco, quem matou foi Deus”, afirmou. Dizia que não brigava, se defendia


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O Pernambucano João Francisco dos Santos (1900-1976), o mítico Madame Satã, era uma espécie de bandido chique. Dizia ser filho de Iansã e Ogum e devoto da cantora americana Josephine Baker. Homossexual assumido em plenos anos 30, ele reinava como camareiro, cozinheiro, transformista, leão-de-chácara e ladrão no submundo da Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro. Negro, pobre e analfabeto, João dos Santos ganhou o apelido de Madame Satã por causa de uma fantasia que usou no bloco carnavalesco Caçadores de Veados em 1942.
Madame Satã foi especial pela infinita capacidade de transformação. Nunca aceitou um único papel. Homossexual, se vestia com o chapéu de panamá e linho apurado de bom malandro, a despeito das sobrancelhas feitas. Jamais admitiu homem se casar com homem e chegou a ter rumorosos casos com meninas de 12 anos. Lutador, viveu quase 28 anos preso em lendária tranqüilidade. Negro, usava os cabelos longos e alisados e comprava briga para ir aonde bem entendesse.
Para entender quem foi Madame Satã, é preciso compreender quem foi João Francisco dos Santos e o que foi a Lapa dos anos 30, território-livre da malandragem que resistiu ao bota-abaixo do Centro do Rio, promovido pelo prefeito Pereira Passos. O desmanche de morros, a abertura de avenidas e a demolição de cortiços foi uma tentativa de assepsia da capital federal que, no início do século 20, contava com 800 mil habitantes, 200 mil deles desocupados de todas as espécies, de baleiros a biscateiros, desempregados, rufiões, prostitutas e jogadores de capoeira, entre eles o próprio João dos Santos.
Foi nesse tipo de ambiente que surgiu Madame Satã. Vinte anos depois da Abolição, o menino trabalhava como escravo em Itabaiana, na Paraíba, antes de fugir para o Rio. Depois passou para as mãos de Catita, uma cafetina de 180 quilos que comandava um dos bordéis mais animados da cidade e tornou-se freqüentador de célebres bares e cabarés da mitologia carioca: Colosso, Capela, Imperial, Bahia, Apolo, Royal Pigalle, Viena Budapest, Casanova e Cu da Mãe. Era um tempo de uma marginalidade pré-industrial, com raras armas de fogo, quando um negro forte podia criar fama no tapa e na navalha, antes de se lambuzar com um "boneco" de cinco gramas de cocaína comprado na farmácia mais próxima.
Ao todo, João Francisco contabilizou 27 anos e oito meses de cadeia, 29 processos, 3 homicídios e cerca de 3 mil brigas. Ágil lutador de capoeira e mestre no manuseio da navalha – contam que ele sempre trazia uma presa na sola do sapato –, Madame Satã só recorria ao revólver em situações extremas, a exemplo da vez em que desfechou um tiro num soldado, na esquina da rua do Lavradio com a avenida Mem de Sá. Na famosa entrevista concedida ao histórico tablóide O Pasquim, em 1976, com seu deboche habitual o malandro afirmou ter sido preso injustamente, alegando que a arma disparara de forma casual. “A bala fez o buraco, quem matou foi Deus”, afirmou. Dizia que não brigava, se defendia.


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