terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Crônicas da capoeiragem (Pedro Adib)

Nas próximas semanas serão postados em nosso blog textos e artigos da coluna Crônicas da Capoeiragem, escritos pelo professor Pedro Abib (Pedrão de João Pequeno) que é professor da Universidade Federal da Bahia, músico e capoeirista, formado pelo mestre João Pequeno de Pastinha. Publicou os livros “Capoeira Angola, cultura Popular e o Jogo dos Saberes na Roda”(2005) e “Mestres e Capoeiras Famosos da Bahia”(2009). Realizou os documentários “O Velho Capoeirista” (1999) e “Memórias do Recôncavo: Besouro e outros Capoeiras” (2008).

Para inauguramos essa coluna, o texto escolhido foi:

Cobrinha Verde: O discípulo de Besouro

Cobrinha Verde: O discípulo de Besouro

Por Pedro Adib

Muito se diz sobre Besouro Mangangá. Muitas histórias, feitos, crendices. Pouco se sabe sobre sua vida de capoeirista, se procurava transmitir seus conhecimentos na capoeiragem, se tinha alunos. Muitos mestres antigos reivindicam inclusive parentesco com Besouro. Porém, do que se tem conhecimento, somente um reivindica ter sido seu aluno. Estamos falando do famoso Cobrinha Verde.

Em Santo Amaro, onde nasceu e cresceu, muitas outras pessoas o ensinaram capoeira, entre eles também os famosos Espinho Remoso, Canário Pardo e Siri de Mangue, mas segundo ele, foi com Besouro que aprendeu o principal. Nascido Rafael Alves França, Cobrinha Verde recebeu esse apelido de Besouro pela sua agilidade e destreza com as pernas, que era tanta que, em certa feita, ele enfrentou sozinho oito policiais com um facão de 18 polegadas, segundo conta o próprio.

Mestre Cobrinha Verde: o discípulo de Besouro Cobrinha Verde sai de Santo Amaro e ganha o mundo, mudando de cidade em cidade, procurando pouso em casas de parentes e em bandos de cangaceiros do sertão, como o de Horácio de Matos. Muitas aventuras, muitas cidades e amores até voltar para a Bahia

E, como todo mundo sabe, capoeira é boa pra se defender, mas não livra ninguém de bala, nem de morte, por isso fortalecer suas defesas com fé e orações foi o caminho escolhido por Cobrinha Verde. Conta Cobrinha que ele possuía um breve, também conhecido como patuá, que o livrava de muitos problemas. Como da vez que dispararam contra ele uma enorme quantidade de balas, e ele desviou todas na ponta de seu facão. Essas mandingas ele aprendeu em Santo Amaro com o velho Pascoal, um africano que era vizinho da sua avó, e segundo contava Cobrinha, esse breve que possuía era vivo e ficava pulando, quando era deixado num prato virgem, depois de utilizado por ele. Mas certo dia, conta Cobrinha, que o breve foi embora e o deixou, depois de um erro que ele havia cometido

Ter sido aluno de Besouro Mangangá é um privilégio para poucos, e assim ensinar se tornava um chamado da arte. Em 1937 começa a ensinar de graça, como gostava de enfatizar, na Fazenda Garcia, depois de ter saído do exército. Nessa época convivia com Bimba e outros capoeiras famosos como Aberrê. Mas com o passar dos anos e morte de muitos dos seus contemporâneos, ele foi o mais velho capoeirista em atividade no brasil, e um dos únicos a conhecer a técnica de jogar com navalhas entre os dedos do pé.

Na sua vida de professor, muitos capoeiras famosos beberam na fonte desse mestre; João Grande é um deles, que diz ter treinado com ele no Chame-Chame nos domingos pela manhã. Como dividia trabalhos com Pastinha, outros capoeiras como João Pequeno também beberam da fonte desse mestre. Como conta mestre João Grande, freqüentavam esses treinos também Gato Preto, Didi, Bom Cabrito, Rege de Santo Amaro, entre outros.

Vida e obra de um capoeira nesse mundo não são reconhecidas, então o maior medo de um capoeira como Cobrinha Verde, era morrer a míngua como Pastinha e Bimba. Sua profissão de pedreiro tinha rendido uma mísera aposentadoria, que não dava pra nada, mas que pelo menos não o deixava na mão. Sua fé também ajudava a não adoecer. O capoeira pra ter uma boa velhice, tem que trabalhar com outras coisas e não só viver da arte... Ô mundo injusto!







Po

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O apito de Pato N´água




Geraldo Filme: Contemporâneo de Pato N´água e grande compositor do samba Paulista

O cara era mesmo uma fera. Bom de dar pernada na tiririca, Pato era um malandro completo. Um negrão alto, forte e valente. E como bom bamba que era, Geraldo Filme conta que Pato era cheio de "comadrinhas" por aí. E foi num dia que o homem foi visitar suas moçoilas que o bicho pegou. Pato alugou um táxi e começou a rodar a cidade. Visitou uma aqui, tomou um café acolá, bateu um papo noutra esquina. Enfim, ficou o dia todo com o mesmo motorista que acabou desconfiando e avisando a polícia. Como já naquela época o pessoal atira primeiro pra depois perguntar, Pato acabou dançando. Em uma manhã de 1969 foi encontrado morto em uma lagoa de Suzano.

"O laudo dava infarte. Mas de susto não morreu porque era bravo. Afogado também não porque era Pato N´Àgua porque nadava bem demais", lembra Geraldo Filme, "Aí o motorista do carro funerário disse pra mim, o Carlão do Peruche: 'Dá uma olhada na japona dele que ela tá com uns furos meio estranhos' Aí quando o Carlão pegou a japona, o dedo dele já entrou no buraco. Aí fomos tirar a roupa dele pra ver, mas não tinha marca de furo. Aí fomos tirar a roupa dele pra ver e não tinha marca de furo. Aí explicaram pra gente que se foi baioneta ou punhal, na água fecha".

Pra contar o final da história, Plínio Marcos, em um texto que saiu no dia 13 de fevereiro de 1977 na Folha de S. Paulo: "O que se sabe é que a notícia chegou no Bexiga à tardinha, na hora da Ave-Maria, e logo correu pelos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus. E por todas as quebradas do mundaréu, desde onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos, o povão chorou a morte do sambista Pato Nágua. E o Geraldão da Barra Funda, legítimo poeta do povo, chorou por todos num bonito samba chamado Silêncio no Bexiga".